colunista do impresso

Payback

data-filename="retriever" style="width: 100%;">Se na matemática 2 + 2 são 4, nas questões socioambientais, o resultado da soma não é bem assim. A exatidão nesta área muda de figura. Os gastos em saneamento não podem ser avaliados com a tabuada convencional, tampouco com os cálculos da economia tradicional. No modelo tradicional, qualquer investimento só se justifica se der lucro financeiro e precisa se pagar no menor tempo possível. Mesmo em plateias da área ambiental, é comum perguntarem em quanto tempo determinado investimento se pagará. É o payback para americanizar!

A Organização Mundial da Saúde (OMS) contabiliza que para cada dólar investido em saneamento são economizados US$ 4,3 em saúde global. No Brasil, 52,36% da população não tem esgoto tratado, de acordo com o Instituto Trata Brasil. Os índices referentes à água potável são melhores, porém 35 milhões de brasileiros não têm acesso. As consequências destes números, além do agravamento da desigualdade social, são responsáveis nos últimos anos pelo ressurgimento de doenças decorrentes das carências sanitárias, como dengue, zika e chikungunya.

Aqui mesmo, em Santa Maria, tivemos o maior surto de toxoplasmose do país. A poluição dos rios e dos córregos é mais uma consequência. O Cadena que o diga! Cursos d'água poluídos em dias de calorã - e o aquecimento global está aí - exalam um cheiro fétido. Insuportável! É prejudicial à saúde e à biodiversidade. A redução do oxigênio provoca a morte de peixes que em muitos casos, além de fonte de alimentação, é renda. O solo em contato com o esgoto também se contamina que, por sua vez, contamina águas, plantas, plantações e animais. As restrições ao uso deste solo se tornam cada vez maiores.

O descarte irregular e incorreto de resíduos agrava ainda mais as péssimas condições. Morar em um lugar assim, somente por necessidade. Quem vai investir em um local poluído? Quem vai visitar ou conhecer um local com lixo a céu aberto, esgoto correndo sob os pés, mau cheiro, pessoas e animais doentes, vegetação precária? Acredito que ninguém.

As consequências que enumerei demonstram que as perdas sociais, ambientais e econômicas com a precariedade do saneamento vão além e são muito maiores, mais amplas e mais complexas do que a contabilidade tradicional pode quantificar. Portanto, os investimentos nesta área se pagam dentro de uma matemática muito mais ampla. Se pagam com redução dos gastos para tratar doenças. Sim, porque saúde é prevenção. É evitar a doença, dimensão oposta da praticada pelo Brasil.

A indústria da doença é muito mais cara, mais dispendiosa e menos eficiente. Enquanto os investimentos em saneamento seguirem sendo calculados dentro de uma lógica cartesiana, o payback vai se demorar a pagar, e crianças continuarão morrendo, os postos de saúde estarão abarrotados de gente doente e os leitos hospitalares serão insuficientes.

2020 é ano de eleição. Tá aí uma boa pauta para selecionar os candidatos!

Carregando matéria

Conteúdo exclusivo!

Somente assinantes podem visualizar este conteúdo

clique aqui para verificar os planos disponíveis

Já sou assinante

clique aqui para efetuar o login

China: quando conheci o dragão que acordava Anterior

China: quando conheci o dragão que acordava

Ainda é Advento! Próximo

Ainda é Advento!

Colunistas do Impresso